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TEMPORALIDADES

Série - Pintura / Objetos artísticos

TEMPORALIDADES

A série Temporalidades aborda o tempo por meio da efemeridade estética apresentando uma composição com várias representações do céu em diferentes momentos. Trata-se de  objetos artísticos em que cada superfície redonda pintada é acoplada a uma maquina de relógio Quartzo que transmite à pintura um movimento contínuo rotativo. Visto que a estaticidade se opõe ao efêmero, a série incorpora a cinética enquanto fator estético na representação do tempo deslocando a pintura do seu lugar comum. As pinturas, assim como os ponteiros do relógio, completam uma volta em um minuto, e com isso, não podem nunca ser observadas de forma inerte, ressignificando a relação usualmente contemplativa entre o espectador e a obra pictórica.

AUTORRETRATO

A auto representação recai em um paradoxo: representar é eternizar, congelar e fixar, portanto, representar a si mesmo na pintura é um processo de fixação de uma identidade, que por outro lado, é construída a partir de um processo de mutação constante. Se o processo identitario é uma construção permanente, a imagem congelada de uma pintura não poderia dar conta da autorretratação. É para escapar deste paradoxo que procurei produzir um autorretrato cuja a estética é a transfiguração. O autorretrato não pode ser observado de forma estática, suas partes móveis são descoordenadas de maneira que a imagem está sempre modificada pelo movimento mecânico.

Ao mesmo tempo que recorrro a uma estética da transformação para a autorrepresentação, a pintura do rosto foi feita com certo grau de naturalismo e fidelidade a realidade que remete a estética clássica. O corpo representado no renascimento se pretende harmonioso e racionalizado. Considerando isso, na busca por tornar o corpo transcendente ao tempo e ao espaço, retirei as informações culturais dialogando com o conceito de nu em Matesco (2009).  

OBJETO AFETIVO

Natureza Morta

"[...] todos os objetos mediam a relação entre o visível (vestígios materiais) e o invisível ( afetos)" (MARTINS, 2017, p. 70).

A produção da obra Objeto Afetivo parte desta noção de Martins (2017) sobre os objetos inventariados. Em especial, da minha minha relação intimista e poética com um objeto pessoal: uma luva de boxe. Nesta produção, busco tornar visível por meio da intervenção poética no objeto, as memórias, devaneios e afetos que ele suscita, ou seja, os motivos pelos quais ele tornou-se relíquia em minha coleção pessoal.

Trata-se de um objeto que teve sua função prática na época da minha adolescência. Ele foi a minha primeira luva de boxe que eu comprei para iniciar a atividade. Iniciei o treino na academia junto a alguns amigos e este foi um um momento intenso de construção de identidade.

Lembrar dos tempos de boxeadora me recorda um conflito constante que eu tinha em relação a minha identidade enquanto mulher. Uma vez que eu não me via representada em uma identidade feminina tradicional e buscava afrontar esta expectativa de feminilidade que as pessoas automaticamente esperam de mim por ser mulher. Iniciar uma atividade predominantemente masculina em que eu era a única mulher, era confrontar a noção prévia de que uma mulher não se interessaria por esportes violentos ou seria frágil para praticar este tipo de esporte. Era por tanto, uma luta, uma dualidade entre identidades discrepantes. Hoje vejo que tenho em minha identidade os dois lados da moeda, força e fragilidade são partes de qualquer pessoa, por isso, ao retomar esta memória, relembro deste meu aprendizado, não preciso provar nada a ninguém, e assumir minhas fragilidades não me torna menos forte, vivo bem com minha dualidade interior.

A noção de dualidade entre força e fragilidade e delicadeza foi estabelecida por uma estética distinta em cada luva. Em uma delas pinto um céu em azul claro e branco, com formas arredondadas, pouco contrastes, com texturas que lembram maciez. Por outro lado, na outra luva, pinto um céu tempestuoso que apresenta alto contraste, cores escuras, formas lineares e pontiagudas

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